PME subestimam risco climático para os negócios

20-12-2024

Com a crise climática a agravar-se, foco no cumprimento da legislação não chega. PME devem olhar para a avaliação e prevenção dos riscos climáticos.

Não descurem o tema da sustentabilidade. Este é o conselho de Graça Fonseca para as PME. A ex-ministra e fundadora da consultora Because Impacts compara a transformação climática com a transformação tecnológica. Para esta responsável, a resposta das PME deve ser a mesma nos dois casos: investir na sustentabilidade como investiram na tecnologia, sabendo que quem não o fizer vai ser ultrapassado e terá a sua sobrevivência ameaçada.

Esta consciência do impacto das alterações climáticas no tecido económico das PME também impulsionou a iniciativa da Generali Tranquilidade de promover o SME EnterPRIZE – Prémio Europeu de Sustentabilidade para PME, que acaba de fechar a sua terceira edição em Portugal, e que tem como propósito apoiar as PME no caminho da sustentabilidade ambiental e social.

Neste contexto, segundo Stefano Flori, CFO da Generali Tranquilidade, "o tecido empresarial português está a dar uma boa resposta ao nosso desafio, mostrando uma grande sensibilidade ao tema". Como o CFO revela: "Nas três edições, tivemos sempre um número crescente de candidaturas, e nesta última edição, que já fechou, tivemos 650 candidaturas." Ou seja, "dos 10 países europeus que participam nesta iniciativa, Portugal é dos que têm melhor taxa de resposta na proporção da dimensão da sua economia", afirma.

"Como na pandemia, será uma crise que irá mudar a perspetiva das pessoas sobre o risco e irá encorajar o investimento na prevenção" - Stefano Flori (CFO da Generali Tranquilidade)

Videocast Sustentabilidade

A conversa entre os dois responsáveis teve lugar no terceiro videocast associado a esta iniciativa, feito em parceria com o Correio da Manhã e a revista Sábado. No entanto, e apesar destes números relativamente encorajadores de adesão ao SME EnterPRIZE, Graça Fonseca, que é também membro do júri desta iniciativa, vê um problema de mobilização por parte não só das empresas, como da sociedade. Por isso avançou com a Because Impacts, que define como "uma agência de impacto que trabalha fundamentalmente em projetos com impacto ambiental e social simultâneo e com uma forte componente de inovação e criatividade". Uma das abordagens que a agência privilegia é a das ciências comportamentais, "numa perspetiva de mudar comportamentos e ajudar as empresas a desenvolver estratégias mais eficazes no seu processo de transição climática e de coesão social", defende.

Crise climática é agora

Para a ex-ministra, "o fenómeno das alterações climáticas é demasiadas vezes abordado numa perspetiva de futuro, quando é uma realidade muito presente, como acabámos de ver em Valência". Na sua opinião, "os responsáveis das empresas têm ainda pouco interiorizado o nível de disrupção, o impacto que isto vai ter nos negócios a muito curto prazo" . É necessária, estima, "uma muito maior mobilização. Este ano passámos os 1,5 graus do Acordo de Paris. A cada ano poluímos mais. A cada ano vivemos mais desastres, como o que atingiu Valência", afirma.

Ao nível das empresas, esta mobilização para a sustentabilidade tem de estar ancorada numa transformação estratégica do negócio, defende Stefano Flori. Para o CFO, "a sustentabilidade tem de ser uma prioridade, mas tem de ser apoiada na sustentabilidade económica. Com esse objetivo, na Generali Tranquilidade "o reporte é integrado e os números da sustentabilidade têm de ter credibilidade". O que implica, defende, "que o modelo de negócio e a estratégia da empresa respondam ao imperativo da sustentabilidade". Na seguradora, explica, "os incentivos de médio e longo prazo estão ligados a objetivos de sustentabilidade, de forma que o sucesso esteja ligado à melhoria da sustentabilidade da empresa".

Papel das seguradoras

Para Graça Fonseca, "as seguradoras como a Generali Tranquilidade podem ter um papel importante nesta mobilização, porque, justamente, estão a sentir diretamente o impacto económico dos desastres associados às alterações climáticas". E portanto, afirma, "estão numa boa posição para criar literacia e para melhorar a perceção do risco climático a todos os níveis, das pessoas às empresas, passando pelos governos". Sobre o tema da viabilidade económica do investimento em sustentabilidade, para a ex-ministra, "a transformação para a sustentabilidade é sempre um investimento, como foi o investimento na transformação tecnológica. Foram feitos investimentos gigantes em tecnologia que foram considerados inevitáveis. O investimento na sustentabilidade tem de ser visto da mesma forma", considera. Na perspetiva de Stefano Flori, "tal como na pandemia, será uma crise que irá mudar a perspetiva das pessoas sobre o risco e irá encorajar o investimento na prevenção". No caso da crise climática, afirma que "a prevenção e a gestão do risco vão compensar cada vez mais face aos custos crescentes das alterações climáticas".

"O fenómeno das alterações climáticas é demasiadas vezes abordado numa perspetiva de futuro, quando é uma realidade muito presente, como acabámos de ver em Valência" - Graça Fonseca (Membro do júri do SME EnterPRIZE – Prémio Europeu de Sustentabilidade para PME)

Comunicação e sensibilização

Na área de atuação da sua consultora, afirma Graça Fonseca, "a capacidade de comunicação sobre a sustentabilidade é fundamental. E fazer comunicação sobre ciência e clima que desperte comportamentos e crie confiança no que está a ser comunicado é particularmente difícil de fazer". Para este membro do júri, "é necessário ultrapassar a incapacidade de entender o que está em causa, a tendência para pensar que isto é um problema do futuro ou que a responsabilidade da solução é de outros". E isto vale, afirma, "para o público em geral e para os responsáveis das PME". Neste contexto, o trabalho da Generali Tranquilidade na sensibilização para a temática da sustentabilidade cabe, segundo Stefano Flori, "num entendimento mais amplo do que é o papel da empresa na sociedade, que se estende para além de desenvolver um bom negócio e de prestar um bom serviço, com bons produtos". Para o CFO, na questão da sustentabilidade, "podemos já estar atrasados, mas temos de ter esperança, e cada um tem de fazer a sua parte", conclui.

Fonte: Correio da Manhã